INDEPENDÊNCIA OU DEPENDÊNCIA? EU FICO COM MEU GRITO
Por Maria Ieda da Silva¹
Isso
que chamam Dia da Independência do Brasil eu assinalo como Dia da Dependência
da Era Comum. Sim. Porque ainda hoje em pleno século XXI continuamos a viver em
uma sociedade na qual o dia 07 de setembro de 1822 mudaria sua história e transformaria a colônia
em nação independente. Mudaria. Mas de fato, não aconteceu. Nação
(in)dependente para quem? Pra quê?
Como
sempre, precisamos aprender a duvidar. Que tal começar a discordar da História
dos livros didáticos, em que a verdadeiro fato ocorreu com Dom Pedro 1º proclamando a Independência
montado em um animal de carga, vestido como um tropeiro e com dor de barriga e
não como retratou Pedro Américo em "O Grito do Ipiranga".
"O Grito do Ipiranga", de Pedro Américo.
O qual não aconteceu desse jeito
De
fato, quanto tempo esse grito demorou a ser ouvido às margens plácidas não do
Ipiranga, mas do rio Tejo, em Lisboa e do resto do mundo? Os acontecimentos
relatam que a emancipação
do Brasil foi somente na esfera política. Que emancipação política foi essa, em que
Portugal só reconheceu a Independência do Brasil em 1825, mediante uma
indenização de dois milhões de libras?Independência, aliás, bastante questionável, já que saímos da tutela de Portugal para cair sob a batuta dos ingleses. Mas se
de fato houve, o que há de comemorar em um país que apresenta números
vergonhosos de políticos com fichas sujas, os quais estão no poder.
Que
independência econômica é essa na qual os ricos continuam a ser donos das
fábricas, do sistema financeiro, das lojas comerciais etc. E somos
“controlados” a todo vapor pela ordem imperialista americana...
Com
o brado grito "Independência ou Morte!", que, aliás, não foi muito
longe, como o Brasil hoje trata suas questões sociais? Estamos presos ao sistema tão truculento e nojento, onde
as mazelas das políticas públicas são um espelho, um mero disfarce, puro
engano. Estamos irremediavelmente presos à uma dependência cada vez mais
estarrecedora, em uma sociedade cada vez mais leprosa.
As manifestações sociais apenas evidencia
essa prisão que estamos vivendo em um país dito de todos. Paradoxalmente, no
entanto, é o sentimento que temos para lutar que também nos apontará a
necessidade de libertação, inerente à sensação aprisionante. Que hoje o nosso
grito dos excluídos seja na esfera política, econômica, social. E que tenhamos
coragem para duvidar sempre e para pensar.Sem medo de sonhar, sem medo de repressão e coação... que continue o meu, o teu, o nosso grito de incômodo ou revolta daqueles que mobilizem pela sua independência, na defesa dos bens comuns a
todos.
Um grito de Independência a toda gente hipócrita, gente inútil, gente fútil.
Um grito de Independência pelo fim do voto obrigatório
Um grito de Independência a todos aqueles que vivem da
terra
Um grito de Independência aos desempregados
Um grito de Independência aos miseráveis que estão na
barbárie
Um grito de Independência pela valorização do professor
Um grito de Independência pela abertura dos arquivos da Ditadura
militar
Um grito de Independência pelos Amarildos que estão desaparecidos
Um grito de Independência a todos aqueles que trabalham
em regime de escravidão
Um grito de Independência de boas vindas aos médicos
cubanos
Um grito de Independência aos excluídos, marginalizados
pelo sistema
Um grito de Independência aos que não comem nem uma
refeição por dia
Um grito de Independência de quem não tem onde morar ou é
escravo de Minha casa Minha vida
Um grito de Independência por você, por nós.
Enfim que o Sete de setembro não seja apenas mais um sábado, como tantos outros. E como já dizia Samuel Bechett, "Tentar de novo. Errar de novo. Errar melhor". Ou seja, ainda há muito para se aprender.
¹ Graduada em Geografia pela Universidade do Estado da
Bahia. Pós- Graduanda em Análise do Espaço Geográfico pela Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia e atua como membro do Grupo de Pesquisa: Trabalho,
mobilidade do trabalho e relação campo-cidade pela UESB.
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